----------- Nícolas "Pavarotti" Poloni--------- Lucas "Domingo" De Lellis -------- Thiago "Carreras" Nestor -----------

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Cães não vão para o céu


Fatídico dia, quando a resposta à falta do que fazer me levou à igreja. Devo dizer, porém, que não fui de livre e espontânea vontade, mas resolvi atender aos pedidos (sendo bastante eufemístico) de minha avó e aos olhares desaprovadores de meu avô. Não custa nada, me disseram. Custa, queridos vovô e vovó, custa tempo e paciência. Enfim, desculpas e motivos à parte, a verdade é que estava lá, em pleno sábado à tarde, na igreja.

Parei à porta para tentar sentir o pouco ar refrescante que entrava por ela, enquanto meus avós se dirigiram aos bancos. Claro, queria fugir dos olhos deles também. A igreja lotou. Sabia que havia muita gente sem ter o que fazer, mas não pensei que essa seria a melhor opção para matar o tempo. De qualquer forma, todos se acomodaram, recebidos por uma canção do coral do bairro, até que o padre começou a falar.

De suas palavras, nada tenho a comentar. Todos sabemos que os padres são todos iguais: a mesma voz, o mesmo sotaque, as mesmas palavras estúpidas e a mesma cegueira vaticana. O que realmente me chamou a atenção foi o cão, magricelo e preto, que entrou na igreja. Posso estar enganado quanto ao sexo do animal, mas isso também não faz importância: apenas o que importou naquele dia foi a diferença de espécie.

Creio que, tentando fugir do calor provocado pelo sol forte daquela tarde, o costelento espécime canino adentrou à igreja buscando abrigo. Pensei, que lugar melhor para se refugiar do que a casa de Deus. O cão, de porte médio, entrou de orelhas baixas e com o rabo balançando, dois claros sinais de amistosidade. Rodeou algumas pessoas, cheirando-as rapidamente, até que se deitou e levou a pata traseira à orelha, iniciando um ataque às pulgas que provavelmente já haviam passado por ali e feito sua refeição. Sorri com a inocência e a benevolência do cão, mas ninguém foi cúmplice de meu sorriso. A bem da verdade, as pessoas o olhavam tortuosamente, afastando-se de nojo. Nesse exato momento, uma das “senhoras” (sendo educado, dessa vez) que, ao que parecia, ajudava nos afazeres ritualísticos da igreja, se aproximou a passos rápidos e, antes que o cão pudesse olhá-la, acertou-lhe um chute na bunda e fez um barulho com a boca com o intuito de expulsá-lo. O cão saiu correndo porta afora, enquanto a impiedosa senhora caminhava de volta a seu banco.

Penso que o chute foi, no mínimo, desnecessário. Aliás, acho que a expulsão de todo foi desnecessária. Ao menos, eu e o cão, naquela tarde quente e (in)fiel, aprendemos uma boa lição: cães não vão para o céu, afinal, parece que nem no lugar mais próximo disso que há na Terra eles podem ir.

São Francisco desaprovaria. Meus avós, creio que não.


Postado por Nícolas "Pavarotti" Poloni