----------- Nícolas "Pavarotti" Poloni--------- Lucas "Domingo" De Lellis -------- Thiago "Carreras" Nestor -----------

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

João Cabral em perspectiva


O poeta

No telefone do poeta

Desceram vozes sem cabeça

Desceu um susto desceu o medo

Da morte de neve.

O telefone com asas e o poeta

Pensando que fosse o avião

Que levaria de sua noite furiosa

Aquelas máquinas em fuga

Ora, na sala do poeta o relógio

Marcava horas que ninguém vivera.

O telefone nem mulher nem sobrado,

Ao telefone o pássaro-trovão.

Nuvens porém brancas de pássaros

Acenderam a noite do poeta

E nos olhos, vistos de fora, do poeta

Vão nascer duas flores secas.


João Cabral de Mello Neto



A perspectiva


“ (...) o futuro da poesia reside em sua própria fonte.(..) Inicialmente, é preciso reconhecer que, qualquer que seja a cultura, o ser humano produz duas linguagens a partir de sua língua: uma racional, empírica, prática, técnica; outra, simbólica, mítica, mágica. (...)” (p. 35) é com a afirmação de Edgar Morin que começamos a análise do poema “O poeta” de João Cabral de Mello Neto. A primeira linguagem do poema de João Cabral seria, superficialmente falando, a de um poeta perdido com suas idéias sem conseguir encaixá-las de uma maneira significativa para o leitor, causando um desconforto, uma estranheza, isto segundo Morin, seria a linguagem racional. Porém a poesia não se limita a esta primeira linguagem. Em “O poeta”, João Cabral fala da própria poesia (metapoesia), ou seja, do fazer poético. Ele apropria-se de língua prática, racional, utilizando símbolos conhecidos para tentar expressar o desconhecido, aquela sensação que só ele sente. Ele fala do moderno, utilizando elementos como o telefone e o avião para representar a modernidade. Na primeira estrofe fica clara essa intenção: “No telefone do poeta/ desceram vozes sem cabeça” – a intenção do poeta é de mostrar a inspiração, vinda como “uma ligação” de vozes desconhecidas, de lugares estranhos, inesperados. O trecho: “Ora, na sala do poeta o relógio/ Marcava horas que ninguém vivera.”, Mostra a situação vivida pelo poeta no fazer poético, ou seja, a sala do poeta seria a sua poesia, marcando horas que ninguém vivera, pois a poesia não é vivida e sim sentida. “E nos olhos, vistos de fora, do poeta/ Vão nascer duas flores secas.” Mostra o fim da atitude do poeta os olhos vistos de fora, seria o olhar do público, e as duas flores secas, seria a própria poesia pronta, seca porque o poeta não fica satisfeito com a sua produção, que já nasce morta, já nasce ultrapassada devido à efemeridade do mundo moderno em que vive. É, pois, uma crítica (ou ­mais uma crítica) à modernidade e todo seu avanço tecnológico e maquinário que invade(ia) as cidades, mudando completamente a vida da população (para pior, segundo muitos poetas).


Postado por "Os Três Tenores"


Referências

MELLO NETO, João Cabral de. pedra do sono. In:_____. Obras completas:volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1995
MORIN, Edgar. Amor Poesia Sabedoria. São Paulo: Bertrand Brasil, 2003.


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Eu passarinho

A arte está presente em todos aqueles que querem (ou melhor, que necessitam) sair de si próprios, expandir, transcender-se, ir além. E a poesia é a expressão máxima da arte. Porque a poesia não está presente apenas no poema, ela pode estar presente no romance, na pintura, na arquitetura, na música, na flor, nos olhos, na parada de ônibus, atrás do balcão, no semáforo, numa palavra, no silêncio, num passarinho. Enfim, onde houver o desejo ou a necessidade de ir além.
Lembro que, quando criança, li em um pano de prato comemorativo aos 80 anos do Mario Quintana, aquele poema “Todos esses que aí estão/Atravancando meu caminho,/Eles passarão.../Eu passarinho!”. Achei a coisa mais boba que eu já tinha lido. Porém, aquilo não saía da minha cabeça, possivelmente por sua musicalidade. Passados alguns dias, veio aquele estalo, que os cultos chamam de “experiência estética”, ou algo assim, e consegui ver a transcendência que a poesia é capaz de proporcionar. Ao tomar conhecimento desta capacidade da poesia, podemos finalmente dizer: “Eu passarinho”.

Por Wagner "Domingo" Machado

Arte e Poesia - Outra (ou a mesma) perspectiva

Começo o texto a partir de um título que separa a poesia da arte. Trazendo para termos mais conhecidos, é como se escrevêssemos o título: Esporte e futebol. A poesia, bem como outras representações, está dentro da “categoria” arte, como o futebol está dentro da “categoria” esporte. Deixando tal equívoco de lado e também a arte em geral, gostaria de ser mais específico e falar sobre a poesia como conceito indefinido. Por que indefinido? Porque tentar definir poesia é como discutir o sexo dos anjos, nunca haverá uma única resposta ou ainda, uma única resposta correta. Octávio Paz, em “O Arco e a Lira” (1982), define ou tenta definir poesia, compreendendo diversas palavras que se completam, que se contradizem, que se significam por si só...Enfim, na verdade, a partir desse texto e de tantas discussões sobre o conceito de poesia que vemos e ouvimos por aí, podemos pensar que poesia tem definições finitas que compreendem tudo que a imaginação humana puder criar e tudo que a alma humana puder sentir. Filosófico, ridículo, engodo, epifania, arte, independente do que pensamos sobre os diversos significados que encontramos ou criamos para o que vem a ser poesia, creio que qualquer definição deveria começar com um simples: Para mim, poesia é... E o resto vai de cada um.

Por Nícolas "Pavarotti" Poloni

Arte e Poesia

Definir ou conceituar "Poesia" é uma tarefa que pode ser considerada praticamente impossível, tanto é que, para Platão a poesia era algo divino. Segundo ele, nenhum ser – humano era capaz de criar poesia. Ela surgia no instante em que o poeta, possesso e inspirado por um deus, escrevia os seus belos poemas. Os poetas de hoje em dia já não acreditam mais na “definição” de Platão. Ao perguntarmos para qualquer poeta, “o que é poesia?” ele nos responderá: “90% transpiração e 10% inspiração”. Na poesia, cada palavra tem seu papel não apenas por seu significado, mas também por seu ritmo, pela sua sonoridade, pela forma como se relaciona com as outras palavras. Fatos esses que tornam a tarefa de conceituar poesia uma complicação. O poeta busca inspiração em tudo que o rodeia, assim como o artista plástico. É comum vermos obras de arte inspiradas em poesias e poesias inspiradas em obras de arte. Isso ocorre pura e simplesmente porque a poesia também é arte. É uma arte diferente, lida com a palavra, ritmo, porém é tão trabalhosa quanto todas as outras, requer disciplina, esforço e muita sensibilidade para que o trabalho seja eficiente. Creio que essa dificuldade de definir o que é poesia é que a torna tão fascinante.

Por Thiago "Carreras" Nestor