A IMPRECADORA
Sou puta, sim, puta e anti-social
mas chupo o dedo sem unha
com boca de pelúcia
Podem vir, que venham
todos os síndicos e o padre viado
fabricante de mendigos
o importador de anões
Pode vir a negranhada
os homens-fêmeas
a indiarada, os baianos
judeus, nordestinos
o lixo, a bosta, o esgoto
Passaram antraz na minha boca
na minha gengiva
torturaram meu rosto
minha arcada dentária
seios nádegas olhos nariz
queixo pescoço garganta
cérebro ânus vagina
comeram toda a carne do meu corpo
vodu na boca lábios gengiva
Enfia o farol na buceta
da puta-mãe de vocês
no cu da puta vaca
da tua mãe-esgoto
Sou eu aqui
dormindo na rua
saia verde camisa preta
Todos precisam de mim
[Do livro Baque, 2007]
O psicólogo Fabio Weintraub tem um destaque no cenário da poesia modera. Sua poesia tem como principal característica a reflexão social. Em “A imprecadora” notamos a presença de uma temática nada “adequada” no fazer poético, porém, muito questionadora para o social. Inadequada no sentido de tratar como tema uma puta, sim, uma puta; uma daquelas mulheres que “alugam” o seu corpo por pouco (ou nem tão pouco assim) dinheiro. Aquela mulher que fica a margem, que é discriminada, negada pela sociedade. Todos sabemos da presença dela, e, ínsita o autor, todos usufruímos dos seus “dotes”. A poesia de Fabio causa um desconforto (diferentemente de outros autores) convida o leitor a pensar, a questionar esta sociedade que, suga, que usa os principais atributos das pessoas, sem o mínimo de sentimento, nem mesmo gratidão. É esse o questionamento em “A imprecadora”. Cabe a nós, leitores, perceber quem é “a imprecadora” em nossas vidas, pode ser o cobrador do ônibus, o empacotador no mercado, o lixeiro, todo aquele que pensamos não nos ter valor nem merecimento de nossa atenção. É para mim, a reflexão deixada por Fabio Weintraub em “A imprecadora”.
Postado por Thiago "Carreras" Nestor
Um comentário:
Já realizei a leitura de teu texto. Brevíssimo teço comentários.
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